sábado, outubro 11, 2008

Português Maldito!

(Des)Prezado idioma,
Venho por meio desta informá-lo que não mais lhe prestarei obediência. De fato, ao longo dos anos, eu negligenciei, deveras, o seu bom uso, mas nunca de forma tão descarada quanto agora.
Não tenho mais saco para ênclises, mesóclises, paráfrases, metáforas. A onda do momento é 'giriar'. Vô falá comu iscrevu pra mi comunicá melhó cum a minha galera. Tu sempre foi um bicho ruim de lidar, eu aprendi às duras penas e não consigo mais disfarçar que transformei-me em um semi analfabeto. Emburreci. Como todos os 'fanqueiros' e pagodeiros que te jogam ao chão, e fazem Camões revirar-se no esquife, com letras absolutamente desnecessárias, porém popularíssimas. Que contagiam multidões pelo minimalismo sacana e sem pudor; como um câncer em metástase incontrolável. Não quero ser um estandarte de tuas virtudes. Quero poder misturar tuas pessoas sem me preocupar com o erro. Não desejo ser pária. Excluído de "conversas" por falar corretamente, e ser rotulado de empolado. Não corrigirei os deslizes alheios, não vou mais correr riscos de morte ao tentar explicar a diferença entre onde e aonde.
Você é ingrato com quem te trata bem. Fui um assíduo frequentador de teus livros gramaticais e dicionários. Mas defenestraste-me de minha vida social. Perdi amigos, ganhei rancores, adquiri vícios, assenti exceções às suas regras para conviver. Tudo em vão. A culpa de meu desterro é tua, ó tão malévolo idioma meu. Deitado eternamente em teu berço platinado se faz de vítima com seus corretores ortográficos robotizados e erráticos. Aqueles que corrigem acertos e ignoram falhas. Que tuas tremas ardam no inferno de Dante, junto aos acadêmicos imortais e dos políticos aculturados e oportunistas; teus verbos e conjunções sejam chacinados pelos modismos. Que utilizem nas orações subordinativas adversativas causais frases que não expressem subordinação e muitos menos oposição à idéia anterior. Que te sufoquem, suprimam e simplifiquem. Que sejais corrompido por estrangeirismos das mais bárbaras línguas. E, por fim, feneça nos anglicanismos do american way of life. Um idioma simples e que não faz distinção de gênero, seu discriminador.
Adeus.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Caro escritor...
Li sua carta dedicada à Língua Portuguesa. Compreendo e concordo com toda sua insatisfação daqueles que insistem em denegrir esse idioma tão difícil que, ao ser pronunciado corretamente, soa como músicas aos nossos ouvidos.
Realmente é uma lástima o que se faz com uma língua tão perfeita. Aqueles que fazem nossos ouvidos doerem com tanta babozeira deveriam ser banidos da face da Terra. Não querendo ser tão cruel com meus "irmãos patriotas", só cortar a língua deles já está de bom tamanho...
Sem mais, deixo aqui postada minha indignação pela destruição do meu idioma.
Ou seja...
Tô cuntigo, valeu "nem", beijaum!!
Renata de Souza.

11:07 AM

 

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