terça-feira, outubro 28, 2008

A glamourização da prostituição

Há tempos que os valores estão deturpados. Mas, atualmente, há um exagero. A mídia perdeu a mão e não sabe mais distinguir o que é notícia do que não é. Dão muito mais valor às fofocas que a fatos importantes. A vida dos "famosos" é mais interessante que o desmatamento, a morte de civis em guerras... E a mulher tornou-se um objeto. Se a luta delas, nos anos 60, era pela igualdade de direitos, hoje é se vender para quem pagar mais. Não existem idéias, conceitos, apenas um corpo esguio utilizado para ganhar muito dinheiro. "E daí?", podem perguntar alguns. E daí que trocaram a dignidade (talento, suor e esforço) pelo dinheiro. Onde antes havia repressão hoje há libertinagem. Tudo é sexo. Desde novelas juvenis à pseudo-celebridades que fazem filmes pornôs. Até virgindade foi leiloada em filme adulto e celebrado como notícia pela mídia.
Não existem mais pudores. Algumas decadentes atrizes que enveredaram pelo mundo pornô se orgulham de sustentarem seus filhos com o dinheiro recebido pela "atuação" nestes filmes; aparecem em programas de televisão que beatificam a profissão, mas dizem que não são prostitutas pois o sexo do filme é artístico. Falam de seus "projetos" para o futuro - geralmente programas de tv, peças de teatro ou participação em novelas -, ganham um cachê e voltam para casa certas de que estão fazendo sucesso. Se se consideram artistas é porque alguém as designou assim. Incorporam, então, essa "arte" às suas baixarias.
Se pareço um conservador quando escrevo sobre este assunto não é por motivação religiosa ou dogmática, já me livrei disso há tempos. Só acho que essa banalização do sexo e a consequente glamourização da prostituição é tão nociva quanto foi a repressão da libido por séculos a fio. Penso que o orgulho da "profissão" que essas atrizes-modelos-manequins arrotam é ofensivo a ouvidos mais preparados. Uma Mayana Catz JAMAIS será devidamente valorizada pelo seu trabalho brilhante em biologia molecular e genética pois, uma sobrinha da Gretchen (que credenciais, hein?!), que alega ser virgem, anuncia para todos os veículos de comunicação que fará um filme adulto, mas não perderá a virgindade. Essa moça (Caroline Miranda) é o assunto preferido e mais acessado da internet nos últimos tempos. Uma menina em formação intelectual bombardeada de informações vindas de diferentes fontes, mas que apontam/convergem para o mesmo assunto terá essa formação deturpada/desvirtuada pelos falsos indícios que lhe mostram o caminho "mais aceito" pela sociedade. Por quê estudar arduamente por 20 anos e ganhar razoáveis salário e reconhecimento por isso se mostrando a bunda na tv, filmando intimidades com naturalidade se ganhará uma grana preta e reconhecimento infinito pelos seus atributos?
Naturalmente aquilo que menor esforço demanda e maior resultado obtem é seguido como padrão pelos outros. E isso é que preocupa. Que futuro teremos assim?

sábado, outubro 11, 2008

Português Maldito!

(Des)Prezado idioma,
Venho por meio desta informá-lo que não mais lhe prestarei obediência. De fato, ao longo dos anos, eu negligenciei, deveras, o seu bom uso, mas nunca de forma tão descarada quanto agora.
Não tenho mais saco para ênclises, mesóclises, paráfrases, metáforas. A onda do momento é 'giriar'. Vô falá comu iscrevu pra mi comunicá melhó cum a minha galera. Tu sempre foi um bicho ruim de lidar, eu aprendi às duras penas e não consigo mais disfarçar que transformei-me em um semi analfabeto. Emburreci. Como todos os 'fanqueiros' e pagodeiros que te jogam ao chão, e fazem Camões revirar-se no esquife, com letras absolutamente desnecessárias, porém popularíssimas. Que contagiam multidões pelo minimalismo sacana e sem pudor; como um câncer em metástase incontrolável. Não quero ser um estandarte de tuas virtudes. Quero poder misturar tuas pessoas sem me preocupar com o erro. Não desejo ser pária. Excluído de "conversas" por falar corretamente, e ser rotulado de empolado. Não corrigirei os deslizes alheios, não vou mais correr riscos de morte ao tentar explicar a diferença entre onde e aonde.
Você é ingrato com quem te trata bem. Fui um assíduo frequentador de teus livros gramaticais e dicionários. Mas defenestraste-me de minha vida social. Perdi amigos, ganhei rancores, adquiri vícios, assenti exceções às suas regras para conviver. Tudo em vão. A culpa de meu desterro é tua, ó tão malévolo idioma meu. Deitado eternamente em teu berço platinado se faz de vítima com seus corretores ortográficos robotizados e erráticos. Aqueles que corrigem acertos e ignoram falhas. Que tuas tremas ardam no inferno de Dante, junto aos acadêmicos imortais e dos políticos aculturados e oportunistas; teus verbos e conjunções sejam chacinados pelos modismos. Que utilizem nas orações subordinativas adversativas causais frases que não expressem subordinação e muitos menos oposição à idéia anterior. Que te sufoquem, suprimam e simplifiquem. Que sejais corrompido por estrangeirismos das mais bárbaras línguas. E, por fim, feneça nos anglicanismos do american way of life. Um idioma simples e que não faz distinção de gênero, seu discriminador.
Adeus.